sexta-feira, 30 de maio de 2014

Entrevista a Jorge Jesus (resumo)

[Actualizado]


O actual técnico do Sport Lisboa e Benfica, em entrevista exclusiva à Benfica TV, fez o balanço da sua carreira, com especial ênfase à última época no comando técnico dos "encarnados".

O comando técnico

Uma das primeiras questões prendeu-se com a continuidade de Jorge Jesus na Luz, depois das notícias que chegaram a circular nas redes sociais e alguns órgãos de comunicação social que davam como certa a sua contratação pelo AC Milan: "O motivo que me levou a continuar foi a minha convicção. A minha ideia, de um projecto de carreira, foi sempre continuar no Benfica. A decisão, contratualmente estava definida. É verdade que tive vários convites, inclusivamente do Milan, por ser treinador de um grande clube como o Benfica e face aos resultados que tive. O facto de ter falado com outras pessoas não me desviou do meu caminho, e da paixão que tenho pelo Benfica. Nunca foi uma falta de respeito ao Benfica, apenas uma identificação com a minha profissão.

O que pode distinguir o Benfica de outros cinco ou seis clubes na Europa é o poder económico. Essas equipas têm os melhores jogadores e os melhores treinadores e podem aspirar a uma Champions. Eu não estou satisfeito, quero mais para o Benfica. A conquista de uma Champions é um sonho. Nessas equipas é mais fácil chegar lá".

Aproveitou, então, para reforçar o motivo pelo qual resistiu aos convites para sair: "Havia clubes interessados. Se fosse a questão financeira, se calhar não estávamos a ter esta conversa. Cada pessoa tem a sua forma de pensar e eu nunca fui habituado a grandes luxos. Sinto-me satisfeito com o que tenho. Se assim for, já agradeço a Deus."

E agradeceu ao presidente Luís Filipe Vieira pelo seu voto de confiança: "Se estou no Benfica, a ele o devo. Ele é o grande obreiro. A educação que os meus pais me deram foi no sentido de saber ser grato. Eu não podia, com a oportunidade que me deram, virar a cara. Sabia que estávamos no caminho certo para ganhar títulos. (...) Foi perceptível para todos que o Benfica tinha de estar unido, nas vitórias e derrotas."

No plano financeiro ,não podia deixar de se falar na questão salarial de JJ: "Não me incomoda falar disso. Acho que justifico aquilo que o Benfica paga e acho que o clube está contente. O trabalho justifica-o. Sou um cidadão como outro normal que passa os meus impostos. Dos meus impostos, pago 60% do total. Eu contribuo para o estado social. A mim não me perturba nada. Profissionalmente, o Benfica percebe isso."

Quanto ao futuro, afirmou: "Acredito nas minhas capacidades. (...) Tenho muito ainda para ganhar no Benfica. A Supertaça é a única taça que não ganhei. O bi-campeonato é um objectivo. É difícil repetir 2013/14 e estivemos perto de vencer a Liga Europa. Tenho consciência que as exigências são maiores."

O plantel: passado, presente e futuro

Em relação ao plantel, considerou que: "A melhor equipa foi do primeiro ano. Essa foi a equipa mais forte dos cinco anos. Apanhei o Aimar e Saviola numa fase muito boa. Ramires e Di María estavam muito bem, eram especiais. Hoje, as caraterísticas dos jogadores são outras. Temos uma ideia de jogo diferente principalmente quando não tem bola. Quando tem bola é semelhante mas há uma diferença. Nós no primeiro ano, nós éramos muito fortes em ataque continuado. A dificuldade no futebol é saber defender com poucos. (...)"

Depois do incidente que existiu na final da Taça de Portugal da época passada, entre Jesus e Cardozo, ficou a dúvida tanto quanto ao treinador, como ao jogador. Sobre isso, JJ esclareceu: "O Cardozo percebeu sempre que era jogador e eu continuava a ser o treinador dele. Não era por aquele episódio que alguma vez o ia prejudicar. A prioridade é sempre a equipa e foi isso que fizemos durante o ano, como pessoas educadas e civilizadas.

E assim prosseguiu, argumentando: "São cinco anos. (...) Os jogadores conhecem-me muito bem e eu também os conheço. Há uma união de ideias. A minha exigência é a mesma e a forma de me dirigir a eles é a mesma."

Mas se a união foi o principal factor para as conquistas da época transacta, seguem-se os habituais momentos de incerteza perante a valorização de jogadores que levam os grande "tubarões" a vir contratar as grandes estrelas do Benfica. Aos nosmes com os quais o Benfica já não pode contar - Rodrigo, André Gomes e Garay -, junta-se  a possibilidade de saírem outros elementos bastante cobiçados: Enzo Pérez, Markovic, Nico Gaitán e Siqueira (emprestado).

"O que é difícil não é só perder os jogadores melhores. O difícil é manter a qualidade da equipa para as exigências que o Benfica tem: é sempre para ganhar. O ter de vender já é complicado mas mais complicado, é manter a qualidade da equipa. Até hoje não se tem notado. Isso é um trabalho que me dá um certo gozo porque tenho cada vez mais que arranjar soluções, para que quando os jogadores saem, tenham de entrar outros."

As conquistas

Quanto às conquistas, JJ não escondeu que o mais importante "foi o primeiro campeonato". Prosseguiu o discurso com o prestígio alcançado a nível europeu: "É muito mais importante, pela projecção conferida, ir a uma final da Liga Europa do que ir a uns "oitavos" da Champions.

Isto sem desvalorizar a conquista do 33.º campeonato nacional, o segundo da sua carreira ao serviço do Benfica.

Na Liga Europa, "Fizemos nove jogos e não perdemos um. Fomos a única equipa que não perdeu e não foi campeã. Não o foi pelos penalties e por um árbitro que nos complicou a tarefa do jogo. A primeira jogada, com o Gaitán, tinha de ser penalty e expulsão. Além disso, não tínhamos três jogadores."

Voltando às competições internas, começou por se referir à Taça de Portugal: "Teve um sentimento especial. Esta taça mexe um pouco comigo, com a minha adolescência e carreira de treinador. Fui habituado em miúdo, talvez em 1966 ou 1967, lembro-me de ver o jogo no Jamor e o meu avô ali ficou. Todos os anos a partir desse dia, eu e os meus amigos íamos ver as finais ao Jamor. A competição mais bonita em Portugal é a Taça de Portugal."

Ainda neste particular, era inevitável falar no triste desfecho do ano passado, a derrota por 2-1 na final da Taça de Portugal frente ao Guimarães, depois de estar a vencer por 1-0, tudo isto depois de perder o campeonato e a final da Liga Europa frente ao Chelsea: "Essa final de 2012/13 tinha dois casos. A minha subida à tribuna e o que aconteceu à tribuna. Estes dois momentos tiveram sempre na minha cabeça. Não se pode fazer nada e temos de ouvir o que os adeptos quiseram chamar-me. (...) Este ano quando ganhámos a prova, houve ali um pormenor importante. O Luisão foi primeiro a subir as escadas em 2012/2013 e agora foi o último, juntamente comigo."

O negativo da entrevista

O aspecto mais negativo da entrevista poderia ser a sua auto-proclamação, denotando alguma arrogância e falta de humildade: "Ninguém sabe mais que eu sobre futebol. Humildade em excesso é vaidade também. Não estamos habituados a que as pessoas sejam convictas. Eu tenho a certeza que sou um dos melhores treinadores do Mundo pelo trabalho, pela metodologia de treino que demorou muitos anos a ser executada por mim." Por fim, acabou por tentar anemizar as suas afirmações: "O treino não é só ideia do treinador. Hoje há uma aliança entre a ciência e a prática."

Quem pretender ver a entrevista na íntegra, ficará esclarecido quanto às convicções de um treinador que dá provas de ser efectivamente um dos melhores treinadores do mundo. Mas está sujeito a errar como qualquer outro ser humano e, como tal, tem muito que aprender.


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